Assistimos ao documentário de Vini Jr na Netflix

Vini Jr. percorre os corredores do Santiago Bernabéu e vê nas paredes a história vitoriosa que ajudou a construir no Real Madrid. O trajeto o leva até o gramado do estádio, que é “mais sua casa do que a própria casa”, como ele próprio diz.
Ao deparar com as arquibancadas vazias, que quando cheias muito gritam seu nome e o ovacionam, é como se a carreira do atacante de 24 anos passasse como um filme, ali diante dos olhos.
A cena de um Vini Jr. já consagrado no Santiago Bernabéu de um Vini Jr. já consagrado abre o documentário “Baila, Vini”, que estreia nesta quinta-feira (15) na Netflix.
E serve também de convite para revisitar em bastidores e entrevistas exclusivas toda a luta do garoto que deixou São Gonçalo para se tornar o melhor jogador do mundo.
Durante meses a fio, a equipe do documentário mergulhou no universo de Vini Jr. Foram 305 horas de conteúdos gravados, sete países visitados e um total de 58 entrevistados, entre familiares, amigos, treinadores e colegas de equipe.
Os documentaristas estiveram com ele nos momentos-chave dos últimos anos: a Copa do Mundo de 2022, os títulos da Champions League e a luta antirracista que quebrou paradigmas em solo espanhol.
Documentário ‘Baila, Vini’ na Netflix
A Trivela teve acesso em primeira mão ao “Baila, Vini” e após assisti-lo do início ao fim, conta abaixo os principais pontos do documentário.
- Onde assistir: Netflix
- Direção: Andrucha Waddington e Emílio Rodrigues
- Roteiro: Emílio Rodrigues e Sérgio Mediador
- Elenco: Vinícius Júnior, Ronaldo, Roberto Carlos, Carlo Ancelotti, Neymar Jr., Toni Kroos, Karim Benzema, Jude Bellingham e mais
- Duração: 108min
– – ↓ Continua após o recado ↓ – –
Luta antirracista
O documentário chega ao seu ápice na conquista da Champions League de 2023/24, com Vini como autor de gol decisivo na final contra o Borussia Dortmund, após ter sofrido com uma virose dias antes.
Mas é inegável que o que torna o “Baila, Vini” relevante são os bastidores da luta antirracista de Vinícius Jr. na Espanha. Uma luta, aliás, que vai muito além dos jogos contra o Valencia no Mestalla, e em especial na derrota do Real por 1 a 0 para o Valencia, em 2023.
— Sofrer no meio do jogo foi algo muito triste. Porque normalmente, eu estou muito concentrado ali no jogo, e eu não consigo escutar. Só que nesse dia foram tantas vezes, que eu perdi a vontade de jogar, eu queria sair de dentro de campo. Aí o árbitro pediu pra eu ficar, meus companheiros pediram pra eu ficar — Vini Jr., sobre o jogo em Valencia.
O episódio desencadeou uma onda de solidariedade no mundo do futebol e também se tornou um incidente diplomático. Fez o Real Madrid insurgir em denúncias. E virou um marco da luta antirracista na Espanha.
Cerca de um ano mais tarde, três torcedores foram condenados a prisão por conta dos episódios de racismo no Mestalla. Foi a primeira punição deste tipo na história da Espanha.
Vini sofreu com racismo da polícia espanhola
Logo em seus primeiros anos em Madri, Vini Jr. e um amigo foram abordados pela polícia depois de sair de um show do humorista Whindersson Nunes. Os policiais pararam a caminhonete importada dirigida pelo parceiro porque identificaram pessoas “suspeitas”.
— Não tinha pessoas suspeitas dentro. Tinham negros dentro de um carro caro e para eles negro não podem estar em um carro caro — conta Eduardo, um dos braços direitos de Vini na capital espanhola.
Ninguém estreia aos 16 anos no @Flamengo por acaso.
Baila, Vini chega na próxima quinta-feira, dia 15 de maio. pic.twitter.com/0VQ5nM8JlF
— netflixbrasil (@NetflixBrasil) May 13, 2025
Documentário ignora Bola de Ouro
O documentário faz questão de retratar Vini Jr. como melhor jogador do mundo. O atacante, de fato, recebeu o prêmio The Best, da Fifa, na última temporada, em cena retratada na tela.
Mas em momento algum da 1h48 de narrativa, a derrota para Rodri na Bola de Ouro, prêmio oferecido pela revista France Football, é abordada na história. Nem mesmo o boicote do Real Madrid à premiação.
Relação com Carlo Ancelotti e Zidane
O documentário mostra em detalhes como Zidane e Carlo Ancelotti tiveram abordagens distintas para fazer Vinicius chegar ao nível que chegou.
No início, o francês deu poucas chances a Vini, especialmente após uma lesão. O atacante por vezes sequer era relacionado pelo treinador. Por outro lado, Zidane fazia de questão de passar (e acompanhar) treinos individuais para o atacante evoluir na finalização e nos comportamentos táticos.
— Eu não fazia tantos gols e pedia para treinar finalização todos os dias. E ele estava sempre comigo (Zidane). Ele sempre me chamava para marcar, para defender. Me passava vídeos. E me convencia que tinha que fazer isso — conta Vini Jr.
Com Ancelotti, por sua vez, a relação era mais próxima a de um pai com um filho. O atacante conta que o treinador não costumava tirar a liberdade do elenco, mas sem perder a responsabilidade.
Como o documentário foi gravado em 2024, por óbvio, não há falas sobre Ancelotti na seleção brasileira.

— O Ancelotti dá a liberdade de a gente fazer mais ou menos o que a gente quer, mas sempre com responsabilidade” (risos) — VIni Jr.
Bastidores da derrota na Copa
A equipe de documentaristas acompanhou Vini Jr. durante a Copa do Mundo de 2022, no Catar. Após a derrota para a Croácia, é possível ver toda a indignação e a tristeza do atacante em uma conversa com os amigos.
Vini lamenta que a Seleção não soube catimbar os minutos finais e diz que Bremer deveria ter entrado no lugar de Neymar para fechar a casinha e segurar o empate.
— Me tira daqui. Quero ir embora — Vini após a derrota para a Croácia.

A “empresa” Vini Jr.
A equipe do documentário mergulhou na vida do atacante na Espanha para mostrar que, hoje, Vini Jr. é uma “empresa”, como o próprio empresário Tatá Soares sentenciou.
O atacante mora com amigos em Madri e tem toda uma equipe à disposição para cuidar de todos os detalhes. Em sua mansão na capital espanhola, o jogador montou um verdadeiro centro de treinamentos, com academia e equipamentos de fisioterapia e recuperação física de última geração.
Além disso, há toda uma equipe multidisciplinar de nutricionista, preparador físico, chef de cozinha, fisioterapeuta e por aí vai para cuidar do corpo e da recuperação de Vini. Sem falar no estafe de amigos, assessores e empresários.
— Não me pagam para ser bonzinho. Me pagam para entrar lá e fazer os gols — Vini Jr.

A “treta” com Benzema
Logo em sua chegada ao Real Madrid, com 18 anos recém feitos, Vini Jr. teve dificuldades de se adaptar ao ritmo e aos níveis de treinamento. O próprio atacante chegou a dizer que achava que não “tinha talento” para estar no Real Madrid.
O documentário mostra as decepções de Vini Jr. quando não era convocado por Zidane e também os momentos de baixa… E de polêmica, como ocorreu quando Benzema o criticou.
No início da trajetória de Vini, o francês disse a Mendy para não tocar a bola para Vini no intervalo de uma partida. O episódio foi contado por Benzema.
— Essas são coisas do futebol. Normais. Não são coisas horríveis. É como ter um irmão mais novo, e eu posso dizer isso para ele. Para mim, nessa partida, ele não estava bem. Fiquei zangado com o que ele fez no campo, porque eu sei que ele é melhor que isso — Benzema.
Outro ponto alto do documentário é o elenco estrelado de entrevistados — como não poderia ser diferente. Os documentaristas ouviram nomes como Ronaldo, Roberto Carlos, Neymar, Bellingham, Toni Kroos, Benzema, Rudiger e por aí vai.