ex-Everton revela como sucumbiu em Liverpool

O atacante Andy van der Meyde despontou como um dos grandes talentos do futebol holandês na virada dos anos 90 para os anos 2000.
Ele brilhou no Ajax, clube que o formou, e até foi para seleção holandesa, mas tudo ruiu na sua carreira com uma precoce mudança à Internazionale. A má passagem o levou ao Everton, e aí começou um dos momentos mais sombrios de sua vida.
Em declaração dada ao livro “The Next Next Big Thing” (“A Próxima Grande Novidade”, em tradução livre), o ex-jogador detalhou como sucumbiu no vício à cocaína e ao álcool em Liverpool, impedindo qualquer foco nos Toffees — em abril deste ano, a Trivela publicou um especial sobre o uso de drogas entre jogadores.
— Eu usava cocaína e álcool e saía para festas sete dias por semana. Não conseguia me concentrar no futebol ou em qualquer outra coisa. Festejar era o objetivo da minha vida. Liverpool é perigoso se você não souber se controlar. Percebi que o Liverpool me mataria. Eu precisava ir. — revelou Andy.
Essa não é a primeira vez que a relação entre Van der Meyde e as drogas são reveladas. Em 2013, uma troca de mensagens entre ele e o compatriota Royston Drenthe, então no Real Madrid, veio a público.
Na conversa, o holandês afirmou que pode “esquiar na cocaína” em Liverpool, cidade que definiu como lotada de “tentações”.
— Em Liverpool você pode esquiar com cocaína. Liverpool tem muitas tentações para rapazes como nós. Antes que você perceba, você será arrastado para as casas noturnas. O Bacardi [bebida] flui e você pode esquiar com cocaína; e as mulheres, Royston. Oh… Aquelas mulheres britânicas de saias curtas. — aconselhou.
Sua passagem como jogador na Inglaterra durou quatro anos, rescindindo o contrato em 2009 após muitas polêmicas com o então técnico David Moyes, lesões e apenas 24 partidas defendendo o Everton.
Van der Meyde ainda continuou na cidade por alguns meses, momento que teria piorado ainda mais o quadro do vício, e até voltou a ter um clube em 2010, assinando com o PSV, mas nem chegou a jogar oficialmente e se aposentou no mesmo ano.
Andy voltou aos gramados em 2012 no time amador WKE Emmem, onde atuou em seis partidas e finalmente fechou a carreira aos 33 anos.
A ascensão de Van der Meyde

Formado em uma das melhores categorias de base do mundo, o então ponta direita estreou como profissional com apenas 18 anos, na temporada 1997/98, quando conquistou os dois primeiros títulos da carreira, a Eredivisie e a Copa da Holanda.
Para ganhar experiência, recebeu um valioso empréstimo ao Twente entre a virada do século e mostrou todo seu potencial ao virar titular rapidamente.
Retornou ao Ajax e permaneceu mais três anos, vencendo mais uma Eredivise e duas Copas da Holanda, além de uma Supercopa da Holanda.
Vestindo a camisa 7 e como importante peça, dividiu o gramado com craques como Zlatan Ibrahimović, Wesley Sneijder e Rafael van der Vaart, e brilhou nas duas últimas temporadas, respectivamente com 20 e 28 participações em gols.

Nessa época, chegou à Laranja Mecânica pela primeira vez e, já na Itália, foi titular na Eurocopa de 2004.
— A certa altura fiquei em segundo atrás de Luís Figo como o melhor ponta da Europa e por vezes penso que desperdicei [talento]. Isso é uma lição e agora quero ajudar outros jogadores a não cometer os mesmos erros que cometi. — disse à BBC Radio 5.
A ida para Inter se mostrou um passo maior que a perna, conforme profetizou o então técnico do Ajax Ronald Koeman, que aconselhou Andy teria dificuldades de adaptação.
Na Itália, só fez 54 jogos em quatro anos, marcados pelos problemas de relacionamento.
— [Trocar o Ajax pela Inter é como] deixar um negócio rural para ir a uma multinacional. Tudo extremamente profissional, uma rodada louca de dinheiro, o presidente que, após cada vitória, dava 50 mil euros a cada jogador. — detalhou em sua biografia “Nessuna pietà” (“Sem piedade”, em tradução livre).
Ao mesmo tempo, fora dos gramados, Andy vivia momentos inusitados. Em certo momento pelo clube nerazzurri, tinha praticamente um zoológico em casa por escolha de sua então esposa, impactando uma transferência ao Monaco.
— Eu tinha um zoológico no quintal de casa: cavalos, cães, zebras, papagaios, tartarugas. Dyana, a minha primeira esposa, era a verdadeira doente. Por ela, recusei uma transferência para o Monaco: em Monte Carlo só há apartamentos, ela me disse, então onde vamos colocar nossos animais? Uma noite desci até a garagem, no escuro, vi uma silhueta imponente e ouvi sons estranhos. Ela havia comprado um camelo. — contou
Hoje vivendo na Holanda, com 45 anos e pai de cinco filhos, Andy van der Meyde vive criando vídeos para internet. No YouTube, ele tem um canal chamado “Andy In The Car!”, no qual entrevista personalidades holandesas semanalmente.