Nova dona do Manchester United apaga parte da história do clube para cortar gastos

Ao torcedor mais antigo do Manchester United, aqui vai uma pergunta: o que era o clube antes da chegada de Alex Ferguson? O que os Red Devils representavam ao cenário do futebol inglês antes da chegada do ex-treinador do Aberdeen?
O treinador transformou o clube em uma máquina de títulos, e ressignificou a grandeza do United. É inegável que o escocês teve um papel fundamental na construção do que o clube é hoje.
Mas Jim Ratcliffe, novo acionista do clube, pensa diferente. A nova gestão acaba de destituir o icônico ex-treinador do cargo de embaixador dos Red Devils. As informações são do jornal The Athletic.
Administrativamente falando, os 2,8 milhões de dólares (quase R$ 16 milhões) de salário de Ferguson parecem pesar além do que o clube pode suportar.
É importante frisar que a receita anual do Manchester é de 662 milhões de libras (quase R$ 5 bilhões de reais), o que torna estranho imaginar que Ferguson terá de deixar suas atribuições no clube única e exclusivamente por uma questão de contenção de gastos.
Para tentar trazer de volta a grandeza construída pelo próprio ex-treinador, Ratcliffe fez cortes em Manchester, demitindo 250 funcionários.
Nesse ponto, os torcedores se questionam: esse tipo de contenção é mesmo necessária, tendo em vista que os gastos com atletas e treinadores que não renderam foram bem maiores?
Imprensa detona postura do Manchester United em relação à Ferguson
O jornal The New York Times criticou veementemente a postura do Manchester United em relação à Ferguson. Obviamente, o cargo ocupado pelo ex-treinador não o possibilita atuar tão ativamente nas escolhas que ditam o futuro do time.
Porém, a era de ouro dos Red Devils teve o escocês como comandante. Aliás, este foi o último momento da história em que o mundo do futebol temeu jogar diante do United.
Desde a aposentadoria do ex-treinador, problemas e mais problemas cercaram o clube, dentro e fora do campo. A solução encontrada pela nova alta cúpula do clube então foi desligar Ferguson de seu simbólico cargo.
A saída do ex-treinador parece uma ação paliativa em meio a tantos problemas apresentados pelo United nos últimos anos. O jornal chegou a questionar se tal postura realmente trará uma mudança significativa nos bastidores.
“À primeira vista, se sua única consideração são números em uma planilha, eles têm razão. Se você está no modo de austeridade, podar suas despesas em alguns milhões quando você não está realmente perdendo nada tangível pode parecer uma decisão óbvia.
Mas quando o corte de custos chega ao ponto em que você está cortando o homem que inventou o Manchester United moderno, é necessário se perguntar se realmente vale a pena. Vale a pena um impulso econômico se isso significa distanciar o homem que ganhou duas Ligas dos Campeões, 13 títulos da Premier League e treinou Eric Cantona, Roy Keane, David Beckham, Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e dezenas de outros?
Que trouxe alegria a milhões de pessoas, que construíram um superclube onde antes havia uma concha de baixo desempenho? Parece que eles escolheram cortar um pouco da alma do United”, diz a matéria do jornal desta terça-feira.

Legado de Ferguson parece não importar aos novos donos do United
O Manchester United poderia mexer em outros departamentos do clube caso realmente precisasse fazer alguma economia financeira.
A começar pelos milhões gastos em contratações que não deram resultado, como a de Anthony. É bem verdade, também, que o legado deixado pela família Glazer ainda obriga a administração dos Red Devils a pagar milhões de juros em dívidas.
Porém, este é um valor controlado, principalmente após a chegada de Jim Ratcliffe. Evitar gastos exagerados com jogadores e cargos administrativos de alto escalão são formas muito mais eficientes de evitar problemas financeiros.
Agora, justificar a saída de um dos ícones do Manchester United nos últimos 30 anos, e principal responsável pela era de sucesso da agremiação, pela necessidade de contenção de gastos, é uma decisão rígida.
Nas arquibancadas, torcida do Manchester United jamais esquecerá o que Sir Alex Ferguson fez pelo clube. Foto: ImagoSerá mesmo que estes cortes, trarão algum benefício real para a parte financeira? Na temporada passada, Ratcliffe cortou as viagens gratuitas dos funcionários para ver a final da Copa da Inglaterra.
Em um dos poucos momentos em que os Red Devils puderam comemorar um título nos últimos anos, os próprios funcionários do clube não puderam ver a equipe, a menos que pagassem.
Ao que parece, as 13 conquistas da Premier League, as duas Champions League, e toda a fidelidade do treinador com o projeto do clube não tiveram valor algum. Em nome da economia financeira, Jim Ratcliffe apagou uma importante parte da história dos Red Devils.
Conquistas de Alex Ferguson no comando do Manchester United
- 2 títulos da Champions League;
- 13 títulos da Premier League;
- 2 títulos do Mundial de Clubes;
- 1 título da Supercopa da Uefa;
- 1 título da Taça da Uefa (atual Liga Europa);
- 5 títulos da Copa da Inglaterra;
- 4 títulos da Copa da Liga Inglesa;
- 10 títulos da Supercopa da Inglaterra.