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Em busca de protagonistas, seleção brasileira celebra Gerson e Luiz Henrique

A seleção brasileira não tem uma liderança técnica evidente como James Rodríguez nem um arranjador de gols num estado de espírito de Lionel Messi, isso para pegar os jogos preliminares da noite em que os dois melhores coletivos do continente encaminharam suas vitórias ao natural de seu jeito de jogar. O Brasil ainda não tem estilo, apenas pedaços de tentativas, então finalmente ganhar um jogo com sobras depois de tanto tempo vale ao menos para soltar novas referências, gente à procura do protagonismo.

O primeiro tempo contra o Peru foi ruim, de novo, porque o time de Dorival Júnior não tem nem combinações bem afinadas para furar retrancas, nem a confiança e o entrosamento em dia para transformar o jogo em pura pressão. Uma circulação sem graça, nada inspirada, um time fácil de ser marcado por um visitante bem fechado. O gol do alívio vai sair só num lance de sorte, um toque de mão estabanado do zagueiro rival.

Não chegaria ao ponto de pensar que 4 a 0 foi um placar enganoso, porque afinal o jogo dura os 90 minutos, mas é preciso a ressalva da dificuldade de criar chances até abrir o placar aos 35 do primeiro tempo. O trauma de Tite, a famosa linha de cinco da defesa adversária que assombrou o treinador em Wembley em 2017, segue sendo o desafio da vez, e o Brasil não mostrou muito sobre como finalizar contra os peruanos. Deu num Savinho frustrante, apertado, e em passes forçados, errados, de Bruno Guimarães e Rodrygo.

Mas surgem boas notícias individuais, sim. Esse Raphinha circulando, não aquele ponta à espera do espaço para o drible perfeito, interessa demais para a seleção, procurando o centroavante, tabelando com o volante, ligado, incomodado. Gerson fez seu jogo mais presente com a camisa amarela, sobrando nos confrontos individuais e com as boas escolhas que o fazem tão especial, finalmente dando pinta de titular. Igor Jesus também sai grande das convocações, esperto na movimentação (menos às vezes muito isolado) e inteiro para proteger, uma boa ideia para a sequência.

Luiz Henrique brilhou ao sair do banco

Mas o dono da festa é Luiz Henrique, porque em tempos de brilhos tão raros é impressionante a facilidade que o canhoto do Botafogo acertou os tapas mesmo com pouco tempo em campo, primeiro em Santiago e depois do Brasília, a chapa no canto como se fosse trivial, uma pelada de amigos. Finais de jogos são diferentes dos inícios, e fica a curiosidade para saber se ele teria rendido mais antes do intervalo, na hora do aperto – não jogou bem quando titular contra o Equador há um mês, lembremos. Tem algo para se ajeitar na ideia ofensiva do Brasil que abra espaços para além do contra-ataque ou dos últimos vinte minutos.

A seleção voltará a ter Vinicius Jr., Paquetá e, em breve, Neymar. Esses até então titulares têm agora a companhia de um Raphinha mais meia, da afirmação dos pontas-direitas – Savinho, Luiz Henrique e Estevão! –, de um Gerson avisando que chegou e de novidades que saem com moral, num voleio de Andreas e nas possibilidades que oferece Matheus Pereira. Falta parecer um time, definir melhor por onde vão os laterais, mas, individualmente, há um saldo positivo.

Insisto que os torcedores e as pessoas que acompanham futebol no Brasil não sonham com um timaço encantador como muitos acham que pode parecer, mas apenas com uma equipe que dê ao menos a impressão de que os principais jogadores do país conseguem fazer algo próximo de seu sucesso nos clubes somado ao conforto de vestir a camisa nacional (a Argentina atual, afinal). Que encontrem as jogadas, que cresçam ao lado de parceiros talentosos ao lado e que consigam, ótimos que são, achar oportunidades de gol contra times comuns. O grande mérito de um bom treinador de seleção brasileira é cortar caminhos para isso. Ainda é muito pouco.

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