Federação Palestina de Futebol critica demora da Fifa para investigar atos de Israel

Desde 2024, a Federação Palestina de Futebol (PFA na sigla em inglês) luta para que a Fifa investigue e tome atitudes contra a Federação Israelense de Futebol (IFA) por possíveis violações de seu estatuto por fatos desencadeados pela guerra na Faixa de Gaza, iniciada em outubro de 2023 após o grupo terrorista Hamas atacar Israel, e até de atitudes anteriores ao conflito atual.
No 75º Congresso anual da entidade máxima do futebol, realizado no Paraguai na última quinta-feira (15), a PFA apresentou uma monção para que o Comitê de Governança, Auditoria e Conformidade (GACC) da Fifa conclua sua investigação para apurar se a participação de times de assentamentos israelenses na Cisjordânia (território palestino) em competições da IFA viola as regras da entidade — pedido esse reivindicado há 15 anos.
— Não podemos esperar mais um ano. Precisamos agir agora. Tudo o que pedimos é uma atualização clara sobre o status da questão e uma data exata para a conclusão da investigação. […] A Fifa não deve continuar reescrevendo as atas das reuniões e passando a responsabilidade de um comitê para outro enquanto o futebol na Palestina está sendo apagado — afirmou Susan Shalabi, vice-presidente da Federação Palestina.
A dirigente também exigiu “uma ação imediata contra o racismo persistente e a incitação ao genocídio dentro da estrutura do futebol israelense”.
— Nossa questão está presa em um padrão de espera altamente politizado e burocrático, semelhante ao sofrimento do nosso povo. Visível, inegável, mas lamentavelmente ignorado — disse.
Israeli settlement clubs are expanding — during a genocide, in violation of FIFA laws, the Olympic Charter, and international law. This is not football. This is sportswashing apartheid
أندية المستوطنات الإسرائيلية تزداد خلال الإبادة في انتهاك لقوانين الفيفا، والميثاق الأولمبي،… pic.twitter.com/PHzVE4g12y
— Palestine Football Association (@Palestine_fa) May 14, 2025
No ano passado, a Federação Palestina também pediu sanções ao futebol israelense por acusações de discriminação e por consequência diretas no conflito, como a morte de mais de 300 atletas, árbitros e dirigentes esportivos desde o início da guerra e a destruição das instalações para prática do esporte, todas violações dos estatutos da instituição que controla o esporte mais popular do mundo.
— Há um ano [no Congresso], nos apresentamos aqui e pedimos a este órgão não favores, nem tratamento especial, mas a aplicação dos mesmos estatutos e princípios que todos concordamos que nos regem como membros da comunidade global do futebol.
Nos últimos 12 meses, a Fifa abriu investigações sobre as acusações da PFA de discriminação e a de times em assentamentos, mas até hoje não tomou uma decisão. A entidade até obrigou que o GACC analisasse as questões até outubro, só que ainda não recebeu um retorno.
— No ano passado, o próprio presidente [da Fifa, Gianni] Infantino descreveu o assunto como ‘urgente’ e prometeu uma revisão rápida. O assunto foi então encaminhado ao GACC da FIFA e ao Comitê Disciplinar da FIFA, mas isso foi há oito meses, e mesmo agora, no relatório que recebemos do departamento de conformidade, não vimos nenhuma menção à Palestina ou à investigação que estava sendo conduzida lá — revelou a vice-presidente, em outra parte do discurso.
— Desde então, não recebemos nenhum prazo, nenhuma resposta, nenhum esclarecimento, nenhum devido processo legal, apesar de repetidos acompanhamentos — completou.
Segundo a PFA, a causa palestina no futebol tem o apoio da Human Rights Watch, da Anistia Internacional e da Fair Square, todas as organizações internacionais ligadas à defesa dos direitos humanos. O discurso de Susan Shalabi durou nove minutos e foi aplaudido no congresso, mas não teve manifestações a favor ou contra.
A vice-presidente da federação tentou que colocar em pauta uma votação para obrigar um retorno do Comitê de Governança em um mês, pedido recusado.
Como a Fifa respondeu o pedido da Federação Palestina de Futebol?
Infantino não abordou o assunto durante o Congresso. Ficou a cargo de Mattias Grafstrom, secretário-geral da Fifa, entrar na discussão, defendendo a necessidade dos comitês serem “autônomos e independentes” e sem trabalhar sob a pressão do Congresso.
— [A GACC] solicitou relatórios de especialistas, inclusive sobre questões de territorialidade, para fundamentar seu trabalho [na investigação sobre os times israelenses em assentamentos] — afirmou o executivo.
— Nossos comitês independentes estão trabalhando no tema. O trabalho está em andamento e continuará até que cheguem a uma conclusão — disse Grafstrom já após o Congresso ao ser questionado por repórteres.
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Causa palestina recebe apoio da Noruega
No momento do discurso de Shalabi nenhuma das federações europeias membros do conselho da Fifa estavam presentes porque protestavam contra a priorização de Infantino em outras pautas (visitas a autoridades da Arábia Saudita e Catar e encontros com representantes dos Estados Unidos), com o presidente chegando atrasado no próprio congresso.
As reindicações palestinas, porém, tem apoio da Federação Norueguesa de Futebol, que, apesar de não ser do conselho, apoiou a greve contra o Infantino e não tinha representantes durante a fala da vice-presidente do futebol palestino.
— A Federação Norueguesa de Futebol se solidariza com a Associação Palestina de Futebol e apoia seu direito de ter essa questão de longa data devidamente tratada pela Fifa. Este assunto está pendente há muitos anos, e é justo e razoável que a Fifa conclua agora o processo de acordo com seus próprios Estatutos, compromissos de direitos humanos e estruturas internacionais — disse Lise Klaveness, presidente do futebol norueguês, em resposta enviada ao portal “The Athletic”.
— Confiamos que a Fifa garantirá transparência e responsabilização neste processo, e que todas as associações-membro possam ter confiança de que as regras serão aplicadas de forma consistente e justa. Compartilhamos a opinião de que o futebol não deve ser utilizado de forma a minar direitos internacionalmente reconhecidos ou princípios legais estabelecidos. É do interesse da comunidade global do futebol que esta questão seja resolvida de forma crível e oportuna — completou.
Quais estatutos da Fifa a Federação Israelense viola, segundo palestinos

No Congresso do ano passado, o presidente da Federação Palestina, Jibril Rajoub, afirmou que a Fifa considera “algumas guerras mais importantes do que outras e algumas vítimas mais significativas” e que a entidade precisa “ficar do lado certo da história” ao pedir o banimento do futebol israelense. Foi após isso que a entidade abriu as investigações sobre o assunto consideradas demoradas pela PFA.
— Quanto mais a família do futebol palestino deve sofrer para que a Fifa aja com a mesma severidade e urgência que agiu em outros casos? — afirmou Rajoub na ocasião.
Em pedido enviado pelas autoridades palestinas, eles alegam que a Federação de Israel viola os artigos 3 e 4 do estatuto da Fifa que dizem respeito à discriminação contra um país ou grupo de pessoas e ao combate dessas atitudes preconceituosas, sendo infrações passíveis de “suspensão ou expulsão”.
— O exemplo mais claro disso [discriminação] é o Beitar Jerusalem FC, que é um clube de futebol profissional israelense de Jerusalém e membro da Premier League israelense. Conforme relatado pela revista “The Economist”, os torcedores do clube cantam com orgulho que este é ‘o time mais racista’ de Israel. Eles gritam insultos, como ‘terrorista’, para os árabes que jogam em times adversários — aponta o pedido da PFA.
A Federação Israelense não se manifestou em 2025, mas, no ano passado, um porta-voz disse que o pedido suspensão “não passa de uma atitude cínica e descarada“.
Muito dos críticos da participação da seleção e times de Israel, que disputam normalmente competições europeias e, no caso do selecionado, as Eliminatórias para a Copa do Mundo, apontam uma hipocrisia da Fifa porque, em 2022, expulsou os times e seleções da Rússia por conta da invasão russa na Ucrânia.
O território palestino é palco da guerra entre o exército israelense e o grupo terrorista Hamas há cerca de um ano e sete meses e já vitimou mais de 50 mil palestinos, sendo boa parte dos mortos mulheres e crianças.