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Decisão entre Manchester United e Tottenham tem ares de Botafogo e Santos na final de 1995

Vou confessar uma coisa: tenho medo da final da Liga Europa. Medo do resultado (torço por um dos envolvidos), mas, talvez mais forte ainda, medo da qualidade do espetáculo.

A tabela da Premier League não mente. Manchester United e Tottenham Hotspur não são bons times. Mas são grandes clubes com uma chance de resgatar um pouco da sua grandeza ganhando o jogo na quarta-feira e assim conquistando uma vaga na próxima Champions League.

O seu encontro em Bilbao trata-se, então, de uma partida de grande importância. Tem muito em jogo — tanto que temo que o medo de errar, de perder poderia tornar os times piores ainda — e aí vou ter que assistir me escondendo atrás do sofá, como uma criança sozinha buscando coragem para ver um filme de terror apavorante.

Lembro da final do Campeonato Brasileiro de 1995, Botafogo contra Santos. A mídia aqui se divertiu muito. Foi uma volta para os anos sessenta.

Tottenham x Manchester United é um pouco parecido.

Manchester United e Tottenham foram expoentes ingleses nos anos 60

Jogadores do Manchester United comemoram após conquista da Copa Europeia de Campeões em 1968 IFoto: Imago)

Naquela época, eram os clubes mais glamourosos do país: United do norte, Tottenham do sul. Colecionavam títulos. O Tottenham foi o primeiro clube inglês a ganhar uma taça continental, a Recopa de 1963. Cinco anos mais tarde, o United se tornou o primeiro inglês campeão do continente.

Mas nunca foi somente um caso de ‘o que’. Com esses dois clubes, era sempre também um caso de ‘como’.

Houve quase uma obrigação de ganhar com estilo. O United explicitamente seguia uma busca para fornecer glamour e cores para uma cidade cinzenta e industrial. E o Tottenham virou o lar espiritual para os amantes de futebol bem jogado. O time ‘push and run’ de 1950/51 foi Guardiola antes de Guardiola.

O torcedor brasileiro associa o United com tal grandeza, mas não o Tottenham. Por quê? É tudo uma questão de timing.

Depois de uma sequência de anos ruins, medíocres e ‘de quase’, o United iniciou um grande período com Alex Ferguson exatamente no momento em que a Premier League estava sendo lançada e o futebol inglês estava virando uma sensação global.

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Tottenham vai de grandeza nos anos 60 ao status de coadjuvante

Enquanto isso, o oposto estava acontecendo com o Tottenham. Depois de uma grande fase nos anos 80, o clube quase quebrou no início da década seguinte. Estava mal — justamente no momento em que o vizinho e rival Arsenal contratou Arsène Wenger e acabou conquistando corações no mundo inteiro. Muito cruel.

O Tottenham passou anos correndo atrás de prejuízo. Desfrutou um pouco da vingança abrindo um novo estado, um dos melhores do mundo. Mas tem uma política de baixo custo — em termos relativos, paga mal, e tem uma tendência de contratar jovens promessas em vez de talentos estabelecidos.

O elenco, então, não é nada sensacional. E tem uma crise de lesões com os meio-campistas criativos. Fazer o que no jogo de quarta-feira? Retranca? Não tem a ver com a tradição do clube, mas com tanto em jogo e com tanto tempo sem um título, a torcida aceitaria uma vitória de qualquer tipo, mesmo marcando um gol cedo e passando o resto do jogo furando a bola.

O técnico Ange Postecoglou, do Tottenham
O técnico Ange Postecoglou, do Tottenham (Foto: Imago)

Mas não tem a ver, também, com o técnico Ange Postecoglou, que ganhou o emprego justamente porque, depois de três pragmatistas, é um comandante altamente ofensivo. Não sei nem se é capaz de armar uma retranca.

Agora se encontra diante da prova da sua vida. No grande dia, será que ele terá coragem suficiente para mandar o seu time para a frente? Para ser fiel às suas convicções? Para se impor no jogo e ganhar o espaço por trás das alas do United? O lema do clube — ‘audere est facere’ — quer dizer ‘ousar e fazer.’ Vamos descobrir em Bilbao se realmente é também o lema de Postecoglou.

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