Os torcedores costumam chamar as divisões de base de Xerém, na Baixada Fluminense, de “Fábrica de Talentos”. De lá saíram muitas joias que brilharam não só no Fluminense, mas em todo o mundo. E um jogador era tido como a grande esperança de ser a maior delas: o meia Arthur.
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Hoje com 19 anos, o jovem é camisa 10 e capitão do time sub-20. Isso porque voltou aos juniores após ser totalmente integrado aos profissionais a partir de 2023.
Com forte assédio de clubes do Brasil e da Europa, o Flu montou um projeto de carreira que envolvia subir precocemente da base para o profissional. Mas nem tudo saiu como o desejado.
A Trivela se debruçou sobre o assunto nos últimos dias para produzir esse especial.
A apuração de reportagem envolveu conversas com pessoas envolvidas na formação de Arthur em Xerém, profissionais do Fluminense e outros ligados ao estafe do jogador, além de fontes do mercado da bola.
Fato é que Arthur vive uma certa indefinição no Fluminense neste momento.
O que não envolve o campo: a questão física e a indisciplina
Arthur só foi citado entre os profissionais em 2024 por um ato de indisciplina. O meia estava com John Kennedy, Alexsander e Kauã Elias em um caso que gerou o afastamento dos jovens de Xerém.
Pouco tempo depois, é importante ressaltar, todos voltaram a jogar sem maiores problemas ou reincidência. Mas se já não tinha muito espaço no time principal, o meia teve ainda menos desde então.
A Trivela apurou, entretanto, que Arthur não tem casos significativos de indisciplina em Xerém. Mesmo com toda a atenção midiática e do mercado da bola sobre seus passos desde a infância, o jovem não recebeu tais críticas das pessoas ouvidas pela reportagem. Pelo contrário.
Mais do que uma liderança técnica, o meia, com o tempo, virou uma presença positiva em Xerém. É capitão de suas categorias há anos e com merecimento.
O único fator extracampo citado por todos é a questão física. Arthur não teve o desenvolvimento esperado pelo clube. Em outras palavras, o jogador é baixinho e franzino — embora tenha ganho força e massa muscular na passagem pelos profissionais.
A opinião de que o desenvolvimento físico freou a explosão de Arthur no Fluminense foi unânime entre as pessoas ouvidas pela Trivela.
Morte trágica e poucos minutos travam desenvolvimento de Arthur
Sob forte assédio dos rivais Flamengo e Vasco e de clubes de fora do Brasil, o Fluminense correu para montar um projeto e assegurar o primeiro contrato profissional de Arthur. Àquela época, a ótima relação entre o clube e o empresário Rodrigo Pitta foi fundamental.
No fim de 2022, entretanto, Pitta morreu vítima de um câncer. Após alguns meses de negociação, a família de Arthur, que sempre acompanhou a carreira do jovem ao lado do agente, resolveu fechar contrato com o empresário André Cury.
Dentre as promessas feitas pelo Flu à família e ao estafe estava o aproveitamento de Arthur nos profissionais antes mesmo da maioridade. O problema é que, como já citado, o desenvolvimento físico não acompanhou o planejamento das partes. Ainda assim, o jovem seguiu com convocações para a Seleção Brasileira na base e, inscrito, foi campeão da Libertadores e da Recopa.
Arthur seguiu monitorado por grandes do Brasil e da Europa, mas passou a jogar menos. Nos profissionais, recebeu algumas chances no Campeonato Carioca e com Fernando Diniz, mas não teve sequência. O técnico, que acreditava no potencial do meia, entretanto, era contrário ao seu retorno aos juniores.
Volta de Arthur ao sub-20 dá esperança no Fluminense
Sua volta à Xerém só foi acontecer quando Diniz acabou demitido. E o retorno ao sub-20 é o que dá mais esperança ao Fluminense sobre o futuro do jogador.
Quando Arthur desceu para os juniores, o Flu era o 16º colocado do Campeonato Brasileiro sub-20 com oito pontos em oito jogos. Após a entrada do camisa 10 no time, o Tricolor disputou mais oito partidas, venceu seis, teve a maior sequência invicta da competição e fez 20 pontos, mas não conseguiu a classificação e ficou no 9º lugar.
Arthur se tornou o protagonista do time na retomada. O jovem marcou três gols e deu três assistências em nove jogos. Uma das bolas na rede foi justamente no jogo da eliminação, um empate com o São Paulo, no agora Estádio Marcelo Vieira, em Xerém. Mais um golaço para sua coleção.
O camisa 10 foi a única boa notícia da categoria na temporada. Não à toa, voltou a atrair a atenção de clubes europeus, que procuraram o Fluminense com propostas bem menos interessantes que no passado. A sinalização do mercado da bola, entretanto, foi positiva para todas as partes.
A primeira já foi! 🟢🔴
📸: Leonardo Brasil/Fluminense F.C
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— Xerém Stuff (@xeremstuff.bsky.social) Sep 7, 2024 at 17:01
A linha do tempo de Arthur no Fluminense
- Chegou em Xerém aos 9 anos e se tornou destaque e artilheiro;
- Até o sub-15, mesmo como meia, Arthur tinha média de quase um gol por jogo;
- Foi o jogador mais jovem a atuar profissionalmente na história do Fluminense;
- Seu agente, Rodrigo Pitta, morreu precocemente aos 45 anos, vítima de câncer, em 2022;
- Recebeu chances com Fernando Diniz “na fogueira” e pareceu cru;
- Técnico pregava que treinos nos profissionais seriam mais importantes que jogos nos juniores;
- Desceu ao sub-20, voltou a ser protagonista e agora vive indefinição.
A indefinição de Arthur no Fluminense
A Trivela apurou que há neste momento uma indefinição envolvendo Arthur no Fluminense. Mas durante a produção da reportagem, um fato surgiu como possível solução: a volta do Campeonato Brasileiro sub-23.
Há uma corrente crescente no clube, neste momento, que crê que o meia não é mais um jogador para disputar torneios como a Copa Rio sub-20, enfrentando clubes de diversas divisões estaduais.
O destaque no Brasileirão de juniores foi mais uma evidência. Isso porque Arthur transformou uma geração que é a menos prestigiada de Xerém no momento em um time com pretensões de classificação em uma competição muito difícil.
A reportagem soube que, dentro do clube, o discurso segue o mesmo: Arthur precisa de minutos para seguir em seu processo de evolução.
Essa é a opinião de Mano Menezes, por exemplo. O treinador observa o jogador em algumas atividades semanais, mas ainda não enxerga que o jovem esteja pronto para ser opção a Ganso, titular de sua posição no time principal.
O time de aspirantes surge como solução para o seu desenvolvimento. Todos no Fluminense acreditam que Arthur “bateu no teto” entre juniores. Ainda assim, não há um novo planejamento para a carreira do jogador neste momento.
Grato ao Fluminense, Arthur recusa grandes rivais no Rio
No Fluminense desde os 9 anos, Arthur se tornou um apaixonado pelo clube. Flamengo e Vasco já tentaram tirar o jogador do clube em muitas oportunidades desde os 15 anos. Mas esbarraram em sua vontade de ter sucesso vestindo a camisa tricolor.
Nos últimos meses, clubes das grandes ligas europeias e da América do Norte demonstraram interesse em Arthur. O Flu, por outro lado, não recebeu nenhuma procura que o agradasse. Não há o desejo de negociá-lo apenas por vitrine, sem receber uma boa quantia em dinheiro pela revelação.
O Fluminense, na verdade, tem uma posição clara ao mercado da bola: neste momento, não vai ouvir propostas por Arthur. O clube confia no desenvolvimento do jovem, mas, por outro lado, não efetuou uma renovação prometida para os 18 anos.
Arthur tem contrato com o Fluminense até 22 de fevereiro de 2026, dois dias antes de completar 21 anos. Segundo o Portal da Transparência do clube, o Tricolor tem 85% dos seus direitos econômicos, e os outros 15% pertencem ao próprio atleta. Há também um acordo de exclusividade de venda de 15% com André Cury, seu empresário.