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Os sucessos distintos de Luis Enrique

Luis Enrique disputará com o PSG, neste sábado (31), sua segunda final de Champions League. A primeira foi há uma década, quando conquistou a tríplice coroa com um dos times do Barcelona que mais encantaram o mundo.

Há dez anos, o treinador tinha Messi, Neymar e Suárez no mais alto nível e teve uma temporada de estreia cheia de polêmicas e resultados superiores aos de Pep Guardiola. Agora, tem um time renovado, sem as estrelas grandiosas como Neymar e Mbappé, e pode chegar ao mesmo fim: mais uma Champions, mais uma tríplice coroa.

Como foi o Barcelona de Luis Enrique

Foram três temporadas no comando dos culés, de 2014 a 2017 — e quase que não teve nem uma sequer completada. Em novembro de 2014 já estava instaurado um cenário polêmico, com direito a desentendimentos com Messi, pouco apelo da torcida e demissão de diretores.

Desde que o ano de 2015 foi aberto com uma derrota para a Real Sociedad, no entanto, o jogo virou. Em meio à crise, o Barcelona de Luis Enrique teve 34 jogos e 30 vitórias. O trio MSN marcou, sozinho, 120 gols, e o aproveitamento de 79% superou o de Guardiola.

Foi com Luis Enrique que Neymar conquistou a Champions League de 2015 pelo Barcelona (Foto: Icon Sport)

Quando chegou ao clube, foi criticado por não ser “suficientemente Barcelona”. Não nasceu na Catalunha, nem passou por La Masia e até foi jogador do Real Madrid. E era muito mais dinâmico, direto e agressivo do que a paciência e calma, características populares no clube.

Chegou dizendo que se manteria fiel ao estilo do clube. Mas admitiu: “Temos que evoluir essa ideia, aperfeiçoá-la, melhorá-la, para que possamos surpreender os oponentes”. E foi exatamente o que ele fez.

O padrão Barcelona, mas revitalizado

Contra times que defendiam baixo, como era o caso da maioria do futebol espanhol diante do Barcelona, a equipe de Luis Enrique ainda jogava no “padrão” do clube. Passes lentos e que pendulavam para aproveitar a amplitude dos laterais e pontas e gerar buracos na defesa adversária.

No entanto, se antes os melhores jogadores do time estavam no meio, agora estavam no trio de ataque. Iniesta estava mais velho e Xavi chegou a ser substituído por Rakitic. Então a paciência foi diminuindo e tornado a construção do Barça mais direta, para que a bola chegasse a Messi, Suárez e Neymar o mais rápido possível.

Com isso, as jogadas passaram a ter mais foco nos lados do que antes, e os laterais eram muitas vezes os responsáveis por ligar a bola diretamente aos pontas. Ainda assim, Daniel Alves e Jordi Alba mantinham sua função ofensiva e subiam bastante, e seu espaço era coberto pelos meias para impedir contra-ataques e manter a estrutura defensiva enquanto o time atacava.

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O Barcelona de 2015 construía com “menos paciência” e mais “pressa” de chegar aos lados (Foto: Tactical Board)

A ideia de “viajar juntos” que Guardiola tanto prezava já não era mais seguida. Mas as sequências diretas e combinações pelos lados entre Messi e Daniel Alves, e Neymar e Alba, eram o epicentro da criação culé.

E em diversos jogos, a pura qualidade do trio de frente fazia a diferença. Neymar e Messi eram buscados para situações de um contra um, das quais majoritariamente saíam vencedores. E os laterais e meias dos seus respectivos lados os ajudavam a criar superioridade numérica, enquanto o ponta do lado oposto geralmente estava livre para uma inversão — e tudo se repete.

Como o trio ofensivo dificilmente recuaria para defender, o Barcelona foi extremamente agressivo na pressão nas duas primeiras temporadas de Luis Enrique, com média inferior a seis passes por ação defensiva em 2015 e 2016. Era um time que defendia muito alto e buscava recuperar a bola o quanto antes — até mais “guardiolista” que o próprio Pep.

E apesar das críticas e problemas com Messi, Luis Enrique deixou o Barcelona com nove troféus em três anos. Em um time envelhecendo e a cada temporada perdendo mais jogadores cruciais.

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O novo PSG

Desde que deixou o Barcelona, assumiu a seleção espanhola após um ano sabático e promoveu mudanças ousadas e solidificou sua filosofia em uma equipe que havia levado o Jogo de Posição a um caminho que beirou a inofensividade. Teve uma boa Euro em 2020 e uma Copa do Mundo promissora, mas decepcionante em 2022.

Deixou La Roja em 2022 e, seis meses depois, assumiu o PSG. Sem Messi e Neymar, e com leves atritos com Mbappé, reformulou o time.

Na atual temporada, Luis Enrique elevou seu Jogo de Posição ao máximo: construção sustentada com três defensores e dois volantes para dar apoio, trio de ataque com trocas de posição incansáveis, laterais com muito apoio pelos lados e no meio-espaço e interpretação de espaços incrível para criar superioridade numérica, qualitativa e cinética durante todo o jogo.

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As incansáveis movimentações do PSG de Luis Enrique (Foto: Tactical Board)

O PSG constrói em 3-2 e cria um quadrado no meio, com um dos pontas entrelinhas ao lado de um dos meias. E há constante movimentação entre os atacantes: enquanto um busca a bola, o outro infiltra e o outro dá amplitude para abrir a defesa. Quando não, dois se aproximam, e um meia ou lateral vai ocupar a posição deles que ficou aberta.

Na teoria do Jogo de Posição, essa cobertura dos demais jogadores serve tanto para oferecer opção de passe, quanto para criar dúvida sobre o marcador daquela região e até mesmo para simplesmente ocupar um espaço sem ninguém, de forma que o adversário não suba a marcação e tenha que se concentrar neste novo jogador que apareceu à sua frente.

Com um ataque em grande sincronia em relação a posições e ocupação de espaços, o sistema defensivo do PSG também melhorou muito em relação aos anos de Neymar, Messi e Mbappé.

Isso porque o trio dificilmente contribuía com impacto na defesa. Não pressionavam com tanto fervor e eram quase nulos em organização defensiva. Tanto que viralizou um vídeo de Luis Enrique cobrando Mbappé por suas ações defensivas na temporada passada.

Luis Enrique profetizou confronto com o Botafogo (Foto: Imago Images)
Luis Enrique no PSG (Foto: Imago)

Agora, é um time que pressiona individualmente, de forma constante e em regiões sempre altas no campo. A pressão vem com diferentes gatilhos: após perder a bola, com um passe quebrado do adversário ou quando a bola vai para as laterais ainda no campo de defesa oponente.

O principal diferencial é que, quando o adversário consegue passar da primeira pressão, o PSG segue com a marcação alta. Os atacantes acompanham seus adversários e criam outras linhas de pressão, independente de onde estejam no campo. Isso faz com que, mesmo que haja um passe que quebre linhas inicialmente, a equipe francesa continue em boas condições para impedir o avanço adversário.

Caso ainda assim não haja sucesso na pressão, quando a bola passa do meio-campo, o PSG rapidamente se recompõe defensivamente para estar atrás da bola. O “viajar juntos”, nesse caso, é muito forte defensivamente: todos pressionam, todos defendem.

E é esse espírito coletivo que Luis Enrique conseguiu pregar no clube — que, mais do que contratar estrelas, constrói um projeto conciso. Contrata jovens promissores e quem se encaixa no modelo de jogo do espanhol. É a receita do sucesso que foi deixada de lado nos últimos anos.

De um time focado nas três estrelas homéricas em 2015 à equipe sem um nome absurdamente mais forte que os demais, Luis Enrique pode repetir o mesmo sucesso neste sábado. Tudo isso sem perder a sua própria identidade.



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