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O que a Copa da Inglaterra tem a aprender com a Copa do Brasil

Fica muito difícil explicar — não somente para brasileiros, mas também para jovens ingleses — como era importante a final da FA Cup, a Copa da Inglaterra.

Até 30 ou 35 anos atrás, era o dia mais importante e a maior festa do futebol doméstico na Inglaterra. Fechava a temporada e era o único jogo dos clubes que passava ao vivo na televisão. Todos os outros jogos a gente só assistia pedacinhos em compactos.

Mas, no dia da grande final, a gente via muito mais que os 90 minutos em campo. A cobertura começava horas antes; entrevistas dos hotéis, joguinhos entre os torcedores, câmeras nos ônibus levando os times para Wembley. Os times gravavam discos (péssimos, mas divertidos) comemorando a sua presença no grande dia.

E sempre, nos últimos minutos do jogo, haviam jogadores caindo no chão sofrendo de câimbras. Falava-se muito do “gramado cansativo” do Wembley. Nada a ver. Não era o gramado levando os jogadores a um estado de esgotamento — era a consequência emocional da importância do dia e de fazer o que, muitas vezes, era o jogo mais importante das suas vidas.

A busca pela glória começou meses antes com a participação de todos os clubes do país, e acabou com o foco nacional em cima de 22 jogadores numa tarde em maio.

A final da FA Cup era um momento fundamental no calendário de todos nós. O primeiro jogo que assisti foi a final da FA Cup. A primeira vez na vida que fiquei bêbado foi no dia da final da FA Cup.

Antigamente, qualquer torcedor podia lembrar, em sequência, as finais dos anos anteriores. Agora não. Virou secundário. Perdeu muito espaço. Nem fecha mais a temporada. Virou um detalhe, muito menos importante que a busca para classificar para a Liga dos Campeões.

Felizmente, a final do sábado tem um apelo extra. Para o Crystal Palace, ganhar a FA Cup seria um triunfo inédito para um clube bem maior que imagina muita gente neste lado do Atlântico. Já para o Manchester City, imagino que a prioridade neste momento seria assegurar uma vaga na próxima Liga dos Campeões — mas um troféu poderia ajudar a maquiar uma temporada bem decepcionante.

No sábado, então, tem bastante coisa em jogo. Porém, poderia ter mais.

Crystal Palace venceu o Aston Villa e se classificou para a final da Copa da Inglaterra (Foto: Imago)

Inglaterra pode aprender com o Brasil a valorizar uma Copa

Aqui, acredito que o futebol inglês pode olhar para o exemplo brasileiro. A Copa do Brasil ganhou muito em importância nos últimos anos — podemos até pensar que o prêmio financeiro fica exagerado em comparação com o campeonato. Mas tem um outro prêmio, além do dinheiro. O vencedor ganha um lugar na Copa Libertadores.

Por que não fazer a mesma coisa com a FA Cup? Já que é tão importante ter um lugar na Liga dos Campeões, por que não valorizar a taça oferecendo esse incentivo para o vencedor? Traria de volta um pouco da velha magia que cercava o dia da final.

Mas, como acontece tantas vezes, o processo de aprendizagem é uma faca de dois gumes. A Inglaterra pode aprender com o Brasil em como valorizar uma copa. O Brasil pode aprender com a Inglaterra em como organizar uma copa.

A FA Cup é jogo único. Nada de ida e volta — a não ser que dê empate. Mando do campo e questão de sorteio. Você pode se dar bem, em casa contra um peso leve. Ou pode se dar mal, jogando fora de casa contra um gigante. Faz parte.

O fator sorte dá charme para uma copa. Já que temos o campeonato para premiar os melhores e os mais regulares, vamos curtir o efeito aleatório que uma copa é capaz de proporcionar. Vamos se emocionar com uma manada de zebras. Uma Copa do Brasil com menos jogos e mais emoção — seria um golaço nacional.



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