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Quais foram as influências que moldaram Ancelotti como treinador?

Carlo Ancelotti foi anunciado como o próximo técnico da seleção brasileira. Lendário treinador de clubes como Real Madrid, Milan e Chelsea, Ancelotti foi também um jogador vitorioso que foi influenciado por grandes nomes desde os tempos em que era meio-campista. De Arrigo Sacchi a Sven-Göran Eriksson e até mesmo Zinédine Zidane, o veterano é camaleônico também por suas influências.

Transição do campo para os estudos moldou Ancelotti

O italiano já afirmou que, inicialmente, não pensava em ser treinador. Foi Arrigo Sacchi, histórico técnico do Milan no fim dos anos 1980 e início de 90, que o convenceu.

— Eu nem sempre pensei em ser um treinador. Um dia em Milão, Sacchi me disse: ‘No dia em que você parar de jogar, eu gostaria que você fosse meu assistente’ — afirmou Ancelotti em participação no evento Mexico Siglo XXI, em 2024.

Assim que pendurou as chuteiras, o ex-meio-campista aceitou o convite do seu antigo treinador e se tornou seu assistente. Foi com Sacchi que viveu sua única experiência de Copa do Mundo em uma comissão técnica, em 1994.

Ancelotti como auxiliar de Sacchi na seleção italiana em 1994 (Foto: Imago)

Os dois nomes que mais influenciaram Ancelotti, segundo ele mesmo, foram dois dos técnicos que mais vezes o comandaram quando jogador. Sacchi o escalou no Milan 142 vezes e é o treinador com quem mais jogou.

Sven-Göran Eriksson, sueco que fez sucesso na Roma, foi o comandante do então volante durante sua passagem na capital italiana durante 93 partidas.

— Ele (Sacchi) mudou a metodologia. Ele era um ótimo professor. Ele me deu muito, como Eriksson. O importante é o conhecimento. Quando você começa, você não tem experiência. Você não pode comprá-la. Vem com o tempo, mas não com o conhecimento. Paixão e curiosidade são importantes. Sempre há algo que você pode aprender — disse o italiano.

Por mais que tenha bebido da fonte de um nome tão importante para a evolução tática do futebol quanto Sacchi, o futuro treinador da seleção brasileira guardou mais o estilo pessoal e de gestão de pessoas do que o pensamento em campo do seu ex-técnico.

O Milan de Sacchi, que tinha Ancelotti como jogador, revolucionou o futebol com um sistema de pressão alta muito forte misturado com uma linha de impedimento agressiva — coincidindo com a mudança na regra de impedimento de 1990.

Ancelotti, no entanto, não aplicou isso em seus times. No máximo replicou o 4-4-2 usado no Milan em seus primeiros trabalhos no Reggiana e no Parma — mesmo tendo escrito uma dissertação voltada ao 4-3-2-1.

Seu principal aprendizado estava na liderança e na forma como Sacchi reunia os 11 melhores jogadores possíveis para jogar seu melhor futebol. E isso sim foi levado adiante pelo técnico durante toda a sua carreira.

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Aprendizado com erro e a ‘influência’ de Baggio e Zidane

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Ancelotti e Zidane, em 2013, durante primeira passagem do italiano pelo Real Madrid (Foto: Imago)

No começo de sua trajetória no banco de reservas, Ancelotti era um treinador mais pragmático do que hoje em dia. No Parma, apesar do sucesso, teve momentos em que priorizou o sistema aos jogadores. E perdeu a chance de extrair o melhor potencial do clube.

Em seu rígido 4-4-2, o italiano preferiu manter a dupla de atacantes de Hernán Crespo e Enrico Chiesa, e acabou deslocando o principal jogador da equipe, Gianfranco Zola, para o lado esquerdo. Zola perdeu espaço e caiu de rendimento e foi negociado com o Chelsea.

E a fixação na dupla de atacantes, sem um segundo-atacante criativo como Zola, também fez com que Ancelotti perdesse a oportunidade de contratar Roberto Baggio, algo que ele mesmo lamentou posteriormente.

Esse erro, no entanto, não foi esquecido. Em seu próximo trabalho, na Juventus, o italiano não se ateve ao 4-4-2 e moldou seu esquema para que o time jogasse em função de Zidane. A Juve passou a jogar em 3-4-2-1, completamente diferente da forma que jogava com Marcello Lippi anteriormente, com Zidane atrás da dupla de atacantes.

‘O futuro do futebol: mais dinamismo’

Mais experiente e seguindo os passos de Sacchi, Ancelotti passou a lidar melhor com o encaixe de jogadores em todos os seus futuros trabalhos a partir da Juventus — também por conta de Zidane. E, sem exceção, mudou seus times para ter os melhores jogadores possíveis juntos.

No Milan, apesar da pressão política do dono Silvio Berlusconi, variava do 4-3-2-1, sua formação preferida, para o 4-3-1-2, a preferida de Berlusconi, para ter sempre seus melhores jogadores juntos: Pirlo, Gattuso, Kaká, Seedorf, Inzaghi e Schevchenko, por exemplo.

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Ancelotti e Kaká pelo Milan, em 2008 (Foto: Imago)

Quando chegou ao Chelsea, testou um meio-campo em formato de diamante (4-1-2-1-2), mas percebeu que Lampard era mais eficiente de frente para o gol, não recebendo a bola perto do meio. Rapidamente alterou e variou entre o 4-3-2-1 e o 4-3-3 já usado por Mourinho antes no clube.

E mesmo seu 4-3-2-1 preferido sendo mantido como o esquema que usou no PSG, quando achou em Ibrahimovic o camisa 9 ideal para o sistema, hoje é uma formação que fica apenas na memória quando se fala de Ancelotti.

Isso porque o treinador triunfou com o 4-3-3 no Real Madrid em sua primeira passagem, quebrando o 4-2-3-1 de Mourinho antes dele. E foi o italiano que convenceu Cristiano Ronaldo a se tornar cada vez mais centroavante. Mas convenceu, nunca impôs.

A transição da nova era do Real Madrid em seu retorno, em 2021, também contou com adaptações. O 4-3-3 se tornou mais fluido e posicional com o avanço da idade de Kroos e Modric, e Valverde, como ponta-direita, passou a ajudar ainda mais no meio, formando o diamante que Ancelotti tentou no Chelsea mais de 10 anos antes.

Com influências mistas em seu jogo, um nome muito marcante que o tocou na forma de liderar e gerir pessoas e um ego quase negativo no que diz respeito a mudar e se adaptar, Ancelotti sempre pareceu se voltar àquilo que foi tema central da sua tese em Converciano, em 1997, “O futuro do futebol: mais dinamismo”. Quase 30 anos depois, ele seguiu como um treinador dinâmico desde sempre.



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