Qual é o rombo que o vice da Liga Europa causa ao Manchester United?

A derrota sofrida pelo Manchester United diante do Tottenham na final da Europa League na quarta-feira (21) foi um jeito melancólico de encerrar uma temporada já complicada nos lados de Old Trafford.
Se engana quem pensa que a maior dor da diretoria foi perder o troféu, embora lhe seja dado o devido valor. O campeão do torneio secundário da Europa está garantido na Champions League e, consequentemente, embolsa 70 milhões de libras (R$ 529,7 milhões). Esse montante faria a diferença em um clube carente de reconstrução e alívio financeiro.
Manchester United se vê em situação delicada dentro e fora de campo
Falta uma rodada da Premier League para o United encerrar oficialmente a campanha 2024/25, mas o time só conseguiria alcançar a 14ª posição, na melhor das hipóteses — o que já seria um alento ao 16º colocado, com 39 pontos.
A questão é que Rúben Amorim e companhia precisam projetar a temporada vindoura sem nenhuma competição europeia no calendário e com uma baixa financeira extra de mais de 80 milhões de libras (R$ 605,4 milhões), conforme informou o jornal “The Times”.
Kieron O’Connor, do blog de finanças do futebol “Swiss Ramble”, afirmou que o United recebeu 30 milhões de libras (R$ 227 milhões) da Uefa TV na campanha vigente, e esse valor não estará mais disponível aos Red Devils no próximo ciclo, bem como cerca de 20 milhões de libras (R$ 151,3 milhões) vindos de receita das partidas como mandante — com aproximadamente cinco jogos a menos em Old Trafford.
Soma-se isso a uma cláusula de penalidade com a Adidas, fornecedora de material esportivo do clube, de 10 milhões de libras (R$ 75,6 milhões). O preço faz menção a um acordo que se aplica caso a equipe não se classifique à Champions.
Não suficiente, a diretoria Red Devil também pode sofrer com a posição do clube na Premier League. Se manter o 16º lugar, o Manchester United embolsa cerca de 22,4 milhões de libras (R$ 169,5 milhões) a menos do que angariaram na temporada passada em bônus e acordo de TV. A tabela do Campeonato Inglês 2023/24 terminou com o time na 8ª posição.
Prejuízo do Manchester United |
Uefa TV | 30 milhões de libras |
Menos jogos em casa | 20 milhões de libras |
Cláusula com Adidas | 10 milhões de libras |
Queda na Premier League em relação a 2023/24 | 22,4 milhões de libras |
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Como esses problemas refletem na próxima temporada?
Esse caos desemboca nos planos da janela de transferências do meio do ano. Para montar um elenco competitivo e fazer o United retornar aos tempos de glória na Europa, os dirigentes precisam de dinheiro. Conforme analisou o “Times”, o clube não pode gastar muito sem vender de forma igualmente significativa.
Em 2023/24, houve lucro de 37 milhões de libras (R$ 280 milhões). Para 2024/25, o departamento financeiro pode contar com pouco mais de 50 milhões de libras (R$ 378,4 milhões) oriundos das transações de Scott McTominay e Mason Greenwood.
Jogadores emprestados, como os atacantes Antony e Marcus Rashford, devem continuar fora dos planos de Amorim e serem negociados em definitivo. O clube dificilmente conseguiria recuperar os 95 milhões de euros (R$ 604,2 milhões) investidos no brasileiro, mas estipulou 40 milhões de euros (R$ 254,4 milhões) para fechar negócio.
Rashford, por sua vez, foi revelado nas categorias de base e tem valor de mercado de 50 milhões de euros (R$ 318 milhões).
Sir Jim Ratcliffe, coproprietário, abordou anteriormente os problemas encontrados em equilibrar as contas. Ele atribui as dificuldades especialmente a negócios “herdados” por sua gestão, a exemplo das transferências de Sancho (julho de 2021), Hojlund (agosto de 2023), Onana (julho de 2023), Casemiro e Antony (agosto de 2022), que continuam na folha de despesas.
O clube acumulou prejuízo de 300 milhões de libras (R$ 2,2 bilhões na cotação atual) nos últimos três anos, e o acionista decidiu implementar uma série de medidas para diminuir gastos. Ratcliffe pontuou que a situação “não é sustentável” e já alertou para o risco de não cumprir requisitos de fair play financeiro. As declarações ocorreram em carta direcionada aos torcedores.

O fair play tende a não se mostrar “um grande problema” em Old Trafford, segundo Kieran Maguire, especialista em finanças. Em entrevista à “Sky Sports”, o profissional ressaltou ser esperada uma redução na folha de pagamentos do time com saídas de jogadores. Contudo, enfatizou a importância de os executivos serem inteligentes ao firmar novos acordos.
— Eles estão tentando atrair jogadores para Old Trafford na próxima temporada. Os jogadores querem jogar no mais alto nível e, se você não pode oferecer a eles o torneio europeu, como incentivá-los? Você tem que oferecer mais dinheiro em termos de salários, bônus e assim por diante. (…) Do ponto de vista do fluxo de caixa, eles terão que reduzir os gastos para a próxima temporada — disse Maguire.
Nessas horas, é possível que passe pela cabeça de Ratcliffe e companhia todo o valor que escorreu pelos dedos tão logo o apito final soou em Bilbao e decretou o Tottenham campeão da Europa League. Os Spurs têm 5 milhões de libras (R$ 37,8 milhões) a mais pelo título e 3 a 4 milhões de libras (R$ 22 a 30 milhões) por irem à Supercopa da Uefa, além, é claro, do valor atribuído aos participantes da Champions.
Na temporada vigente, a Uefa bonificou o Arsenal com 100 milhões de libras (R$ 756,8 milhões), o Liverpool, com 83 milhões de libras (R$ 628,1 milhões). O Aston Villa recebeu 71 milhões de libras (R$ 537,3 milhões), e o Manchester City, 64 milhões de libras (R$ 484,3 milhões).