Damián Bobadilla pode sofrer duras punições tanto na esfera desportiva quanto na esfera penal após ter sido acusado de xenofobia pelo venezuelano Miguel Navarro, durante a vitória por 2 a 1 do São Paulo sobre o Talleres, na última terça-feira (27), no MorumBIS.
De acordo com o lateral da equipe argentina, o volante o chamou de “venezuelano morto de fome” em meio a uma discussão no final da partida. Navarro chorou em campo e chegou a ameaçar deixar o gramado, mas seguiu no jogo.
Depois da partida, o venezuelano registrou boletim de ocorrência ali mesmo no estádio, em que reiterou que foi chamado de “venezuelano morto de fome”. Os companheiros Nahuel Bustos e Marcos Portillo foram ouvidos como testemunhas,.
O árbitro Piero Maza Gomez também prestou depoimento à polícia. Na súmula, porém, não há qualquer registro sobre o episódio.
Navarro diz que Bobadilla o chamou de “venezuelano morto de fome” pic.twitter.com/0eCyyiuBzw
— Eduardo Deconto (@eduardodeconto) May 28, 2025
O que pode acontecer com Bobadilla?
Caso Bobadilla seja, de fato, denunciado por xenofobia, ele poderá enfrentar severas punições tanto na esfera desportiva, quanto na esfera penal.
O paraguaio pode ser denunciado no artigo 15.1 do Código Disciplinar da Conmebol, cujo texto prevê punições para qualquer atitude que “menospreze, discrimine ou atente contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas por motivos de cor da pele, raça, religião, origem étnica, gênero ou orientação sexual”
A pena prevista para este tipo de infração é de 10 jogos a quatro meses de suspensão.
A atual edição da Libertadores, aliás, já teve um caso de punição por xenofobia. Em abril, o meia Pablo Ceppelini, do Alianza Lima, pegou quatro meses de suspensão por ter chamado torcedores do Boca Juniors de “bolivianos”, em partida entre os dois clubes nas fases inicias da competição.
Xenofobia é crime no Brasil?
Não há no Código Penal Brasileiro um artigo específico para crimes de xenofobia. Mas este tipo de infração é equiparada a casos de racismo.
O Artigo 2º-A da Lei 7.716/1989 considera injúria racial ofender alguém com base em cor, raça, etnia ou procedência nacional. A pena prevista para este caso é de dois a cinco anos de prisão, mas com possibilidade de conversão da punição para serviços comunitários.
O delegado Rodrigo Simplício, da Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE) convocou uma entrevista coletiva para esta quarta-feira (28), às 16h (horário de Brasília), para dar mais detalhes do caso.
Na terça-feira, Bobadilla deixou o MorumBIS antes de ser chamado pela Polícia Militar par aprestar depoimento. Quando os policiais chegaram ao vestiário, ele já não estava mais lá.
A Polícia Civil espera que o volante se apresente para prestar esclarecimentos ao longo do dia. Mas como ele não foi indiciado, isso não irá ocorrer. A diretoria do São Paulo se reuniu para discutir o caso com o departamento jurídico pela manhã, e nenhum representante do clube ou do jogador deve comparecer à delegacia.
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Bobadilla grava vídeo e pede desculpas
Nesta quarta-feira (28), Bobadilla usou as redes sociais para se pronunciar
O volante em momento algum negou as ofensas, mas afirmou que foi ofendido “primeiro” pelo adversário, que, segundo ele, o tratou “com desprezo”. O paraguaio ainda pediu desculpas.
— Foi um jogo muito quente, um clima tenso durante todo o jogo. Depois do nosso segundo gol, tive uma troca de palavras com o jogador do Talleres onde fui ofendido primeiro, ele também me tratou com desprezo. Nunca tive a intenção de discriminar ninguém, mas durante aquele momento quente acabei reagindo mal. Queria me desculpar publicamente e pedirei desculpa se encontrá-lo pessoalmente. Desculpas e abraço a todos — disse Bobadilla.
Em nota oficial, o São Paulo afirmou que Bobadilla será “devidamente orientado por medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance”.
> Confira a nota oficial do São Paulo:
São Paulo, 28 de maio de 2025
O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais.
Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.
O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma.
O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.
Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa – ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo – entendemos ser fundamental que o Clube ofereça suporte institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance.
Os próximos jogos do São Paulo
- Bahia x São Paulo — Brasileirão — sábado (31), às 18h30 (horário de Brasília);
- São Paulo x Vasco — Brasileirão — quinta-feira (12), às 21h30 (horário de Brasília).